Biologia da Paisagem

Vegetação florestal típica de Mata Atlântica.

Qual tipo de vegetação existe em Belo Horizonte?

Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, tem localização privilegiada sob o ponto de vista da biodiversidade e da disposição dos biomas brasileiros. E isso não é “clubismo” do autor deste artigo: a cidade está localizada exatamente na transição de dois grandes domínios de vegetação do Brasil, a Mata Atlântica e o Cerrado. A “divisa” entre eles passa em algum ponto entre a área central da cidade (Mata Atlântica) e a Pampulha (Cerrado). Grosso modo, a metade norte do município está inserida no domínio do Cerrado e a metade sul, na Mata Atlântica. 

É claro que essa divisão é didática e tem finalidade política (a “linha” divisória tem que passar em algum lugar, afinal) e, na prática, não há diferença significativa do padrão vegetacional da capital com cidades a norte, inseridas completamente dentro do Cerrado, como Santa Luzia, Vespasiano, Ribeirão das Neves, Confins, etc. No entanto, é de elevado simbolismo esta divisão passar dentro da capital do Estado e mais ou menos no meio dela.

Algumas representações colocam, inclusive, a zona de transição dos 2 domínios de vegetação sobre parte das regiões da Pampulha, Venda Nova e Nordeste, sendo que somente o extremo norte é composto por Cerrado pleno e grande parte do município (do centro para o sul) está inserido na Mata Atlântica. É um ecótone, quase um resumo de Minas Gerais:

Belo Horizonte e os biomas.

Belo Horizonte está exatamente no ecótone entre o domínio da Mata Atlântica e do Cerrado. Em tese, a Pampulha é cerrado e o centro, Mata Atlântica!

Domínios de vegetação de Belo Horizonte - MG.

Domínios de vegetação de Belo Horizonte - MG. Nesta representação, a faixa de transição engloba parte das regiões da Pampulha, Venda Nova e Nordeste, sendo que somente o extremo norte é composto por Cerrado pleno.

Ecótone
Zona de transição entre dois ecossistemas diferentes ou entre duas comunidades.

Quando analisamos os biomas presentes em Belo Horizonte, é claro que consideramos tratar-se de uma grande metrópole altamente urbanizada e que não mais apresenta as características clássicas de nenhum dos biomas citados. No entanto, a cidade é influenciada por eles, seja na arborização urbana (ruas, praças e jardins), que apresenta composição de espécies frequentemente dos dois domínios, ou na vegetação das unidades de conservação e dos seus mais de 80 parques urbanos, que têm áreas florestadas por árvores nativas ou mesmo áreas contínuas de vegetação natural, como é mais evidente no Parque da Serra do Curral, da Baleia, Serra Verde e em áreas livres do município, como a Granja Werneck. Ainda, a vegetação do entorno invariavelmente influencia a capital, com a eventual presença de animais silvestres na cidade. 

Mata Atlântica

A Mata Atlântica de Belo Horizonte é semidecidual, ou seja, apresenta significativa queda de folhagem durante o inverno, o que a diferencia da fisionomia mais densa deste bioma presente mais próximo do litoral. Ainda assim, é bastante fechada e forma dossel característico, como é possível ver nas matas dentro do Parque Municipal das Mangabeiras e da esmagadora maioria dos parques urbanos municipais:

Vegetação florestal típica de Mata Atlântica.

Vegetação florestal típica de Mata Atlântica em Belo Horizonte, no Parque das Mangabeiras. Ao fundo, a Serra do Curral iluminada pelo sol do final de maio de 2023.

Mata Atlântica densa.

Mata Atlântica densa no Parque Estadual Serra Verde/BH. Junho/2023

Cerrado

O Cerrado de Belo Horizonte pode apresentar-se sob a forma clássica de savana, mas é muito menos característico que o Cerrado do centro de Minas Gerais, como na região de Curvelo e Cordisburgo, e bastante influenciado por formações florestais. Nestas regiões, observa-se as chamadas “matas secas”, formações florestas deciduais, que não ocorrem na RMBH. 


O domínio de vegetação está presente no Parque das Mangabeiras, no Parque da Serra do Curral, nas áreas livres do município (Granja Werneck e outras) e, de forma isolada ou manifestada apenas na composição de espécies, nos demais parques municipais e na arborização de vias.

Campos rupestres

Como se fosse um bônus, a capital mineira ainda apresenta áreas de campos rupestres nas cristas da Serra do Curral, devido a sua elevação de até 1500 m no chamado Pico Belo Horizonte. Este ecossistema é um dos mais biodiversos do mundo e ocorre em áreas elevadas dos domínios do Cerrado, da Mata Atlântica e da Caatinga. 


Em suma, os moradores de Belo Horizonte, de forma consciente ou não, convivem com elementos e até fragmentos tanto de Mata Atlântica quanto de Cerrado, além de trechos de campos rupestres na Serra do Curral. Somente por esse motivo fica evidente a importância de manter, ao menos em parte, a vegetação dos municípios da RMBH preservada. 


Vale mencionar, também, a presença de Áreas de Preservação Permanente, tanto do tipo associado a corpos d’água quanto de declividade e topos de morro, além de brejos e os próprios corpos d’água, como os rios (Velhas, Arrudas, etc) e lagos dentro dos parques, com menção especial ao reservatório da Pampulha que, embora artificial e altamente eutrofizado, fornece nicho ecológico para dezenas a centenas de espécies de invertebrados, aves, répteis, anfíbios, mamíferos e peixes. 

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