Biologia da Paisagem

Meliponário.

Como a meliponicultura pode ajudar na saúde do seu jardim?

As abelhas são animais muito populares atualmente por causa do crescente apelo ecológico contemporâneo. Diferente do que muita gente pensa, a maioria tem hábitos solitários, ou seja, não forma colmeias nem estrutura social de operárias e rainhas. Sob o ponto de vista da sistemática, pertencem ao filo Arthropoda, à classe Insecta e à ordem Hemiptera, com várias famílias e tribos. As tribos Euglossini (abelhas metálicas) e Bombini (de grande porte) não apresentam sociedade verdadeira, o que ocorre com as da tribo Apini (abelhas Apis mellifera, as mais comuns na nossa cozinha) e Meliponini (abelhas sem ferrão que formam colônias verdadeiras, objetos deste artigo).

Como já é de conhecimento público consolidado, as abelhas são os insetos polinizadores mais importantes e cumprem uma fundamental função de promover a reprodução das plantas. Por meio do transporte de pólen de uma flor para outra, propiciam condições para a formação dos frutos que consumimos. Indiretamente, também contribuem para a produção das raízes como a mandioca e a batata, para a produção de carnes (bois se alimentam de plantas) e derivados em geral dos animais, como leites.


A meliponicultura é um sistema de criação de abelhas sem ferrão ainda em desenvolvimento, com técnicas não padronizadas (ou pouco padronizadas), devido à grande diversidade das abelhas da tribo Meliponini. Tem se popularizado no Brasil, à medida que o conhecimento por meio de cursos e das redes sociais se difunde na população. 

Criadas em meliponários, estruturas físicas próprias para o desenvolvimento delas, as abelhas sem ferrão produzem potes ovais de mel e formam uma sociedade mais complexa, em que a rainha precisa das operárias para formar ninhos. Apesar da presença das estruturas do ferrão, essas abelhas perderam a capacidade de ferroar ao longo da evolução. Muitas espécies são tímidas e inofensivas, outras mordem seus inimigos com suas fortes mandíbulas e outras grudam neles por meio de resinas. Tem até espécie de abelha que cospe soluções ácidas que queimam a pele de seus invasores. Cerca de 500 espécies (240 no Brasil), estão distribuídas pelas regiões tropical e subtropical do planeta.  

Meliponário.

Meliponário no Inhotim, com colônias de várias espécies de abelha. 02/11/2022


E o que isso tem a ver com o seu jardim? 

A visita de flores por abelhas é um processo natural que foi consolidado após longo período de co-evolução biológica entre as plantas e esses insetos. Apenas esse motivo já é suficiente para a visita de abelhas nas flores ser altamente desejável, porém os benefícios vão (muito) além. Ao realizarem a polinização entre os elementos do jardim, as abelhas favorecem o metabolismo vegetal, que se materializa na produção de frutos e sementes, e tornam mais complexas as interações no jardim. A produção de frutos após a polinização atrai outros insetos, aves e pequenos animais que, juntos, formam uma comunidade biológica no jardim dentro de um ecossistema particular. Esse pequeno acréscimo de complexidade desfavorece a presença de pragas, já que a chance de haver maior competição e até mesmo predadores neste ambiente mais rico é maior. Como exemplo, podemos citar o surgimento de joaninhas em hortas, que diminuem a população de pulgões. A partir da ocorrência da fecundação na formação das sementes, há troca de material genético entre diferentes indivíduos, o que favorece maior variabilidade genética e populações mais fortes e resistentes. Isso pode ser interessante para plantas que precisam se multiplicar para forrar constantemente um espaço ajardinado. Completar um jardim com plantas oriundas de sementes é sempre melhor do que com clones. Quando a conversa entra no mercado de venda de plantas (seja em floriculturas ou, principalmente, em viveiros de mudas para reflorestamento), a presença das abelhas é ainda mais importante, pois a produtividade e os lucros tendem a aumentar. A formação de sementes, neste caso, pode ser entendida como uma potencial venda em um futuro próximo e sob baixo custo, já que a produção é própria e não haverá revenda. Em ambiente urbano, a oferta desses insetos é limitada, tendo em vista a artificialidade do uso e ocupação do solo. Elas existem nas cidades (principalmente próximas de parques e em bairros mais arborizados), mas de forma muito mais escassa que no campo e é baixa a probabilidade de surgir uma colônia de forma a "atender" o seu jardim. Diante disso, manter intencionalmente uma colônia destas abelhas no jardim é muito interessante para favorecer a saúde do espaço e das plantas em geral. Elas podem ser compradas de pessoas especializadas ou produzidas pór meio de iscas.

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