Muitas pessoas, ao andar em ambientes florestais, provavelmente, já observaram estruturas estranhas e curiosas na superfície das folhas das plantas, que não parecem “pertencer” ao vegetal. Podem ser verdes ou em outras cores, ser discretas, como pequenas evaginações no limbo foliar, mais distribuídas pela folha - não raro comprometendo completamente sua estrutura - ou enormes, formando verdadeiras massas celulares anexas ao vegetal. Essas estruturas são chamadas de galhas, entendidas por alterações morfológicas no tecido vegetal promovidas por um inseto galhador.
As galhas se desenvolvem por meio da reprogramação das células vegetais, em que linhagens celulares assumem formas e funções diferentes daquela do padrão ontogenético do órgão hospedeiro, através da fina regulação da plasticidade fenotípica celular pelos estímulos químicos e mecânicos dos insetos (Redfern e Askew 1992, Rohfritsch 1992). Em outras palavras, a presença do inseto na planta faz com que suas células assumam formatos e funções diferentes das usuais, gerando as anomalias morfológicas mencionadas acima.
Essas anomalias são causadas por insetos galhadores, parasitas especialistas que induzem a formação de estruturas de diferentes formatos nos órgãos vegetais, a partir das quais obtêm abrigo e nutrição, ou seja, são o resultado de uma interação ecológica desarmônica, em que o inseto é beneficiado e o vegetal, prejudicado. Devido à complexidade dessas relações em regiões tropicais (que representam quase a totalidade do território brasileiro), é usual identificar as galhas como morfotipos, de acordo com seu formato tridimensional. Assim como ocorre com a biodiversidade tropical de forma geral, há uma elevada a riqueza e diversidade dos morfotipos de galhas.
Um aspecto interessante dessas estruturas é que elas apresentam crescimento limitado e bem definido, com formatos repetitivos na natureza de acordo com a espécie do inseto galhador. Ou seja, há um padrão de fenótipo celular em galhas, em que um determinado tipo de inseto produz galhas parecidas nas plantas, como se elas fossem um fenótipo estendido dos seus indutores. Assim, é possível falar em diferentes morfotipos de galhas ou os fenótipos estendidos dos galhadores, como peculiaridades específicas de cada sistema inseto-galhador. Vale considerar que pode haver convergência de formas de galhas, normalmente associada a espécies mais aparentadas.
Literatura: CARNEIRO, Renê Gonçalves da Silva. A AMPLITUDE DO CONCEITO DE FENÓTIPO ESTENDIDO EM GALHAS DE INSETOS. 2015. 116 f. Tese (Doutorado) - Curso de Biologia Vegetal, Instituto de Ciências Biológicas - Departamento de Botânica, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.