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Pampulha, Belo Horizonte

Biologia da Paisagem

Paineiras-rosa sem folhas.

As paineiras e nossas estações do ano

O estado de Minas Gerais, por estar localizado inteiramente na porção tropical do planeta, não apresenta diferenças claras e evidentes entre as 4 estações do ano (verão, outono, inverno e primavera). Normalmente, por aqui, refere-se a “outono-inverno” como o período mais ensolarado e frio do ano e a “primavera-verão”, à época chuvosa e mais quente e abafada. No entanto, a localização a sul do paralelo 15° até 22° de latitude permite ligeiras diferenças entre o outono e o inverno e a primavera e o verão e é isso que será abordado neste artigo, por meio do comportamento de uma árvore típica de nossas florestas. 

 

A paineira-rosa (Ceiba speciosa), espécie nativa do Brasil e comum na arborização urbana – onde pode formar bosques - apresenta um comportamento muito característico para cada uma das 4 estações do ano: das flores no verão ao raleamento da copa e formação dos frutos no outono, segue-se a formação e queda da paina no inverno – com os galhos secos - e ressurgimento das folhas verdinhas na primavera! Tais ocorrências ocorrem de forma concomitante e coerente com as mudanças de padrão atmosférico no estado e compõem um excelente exemplo de interação planta-atmosfera. 

 

O paralelo 20°S (onde está localizada a cidade de Belo Horizonte, fonte das imagens aqui), é caracterizado pelo mesmo padrão de estações citado para Minas Gerais. Apesar disso, olhares mais atentos conseguem perceber nuances de transições (outono e primavera), tanto nas condições do tempo quanto no aspecto natural. Muitas árvores, nativas e exóticas, nos mostram perfeitamente os sinais da natureza à passagem dos dias, das semanas e dos meses do ano, como as eritrinas, os ipês, as castanheiras, os resedás, as sibipirunas, os cajazeiros, as neve-da-montanha e, principalmente e alvo deste artigo, as paineiras. 

 

As paineiras são um desses elementos naturais que nos informam em qual período do ano estamos, já que têm um comportamento típico para cada um deles. É muito interessante perceber como a espécie começa o ano em floração crescente ao longo do verão, seguido de escasseamento progressivo de suas folhas e formação dos frutos no outono, até uma copa bem seca, de galhos e frutos evidentes, com liberação da paina no inverno e, por fim, termina o ano verdinha novamente!



VERÃO

O verão, na grande maioria das localidades do planeta, é a estação mais quente do ano. No caso de Minas Gerais é, também, a mais chuvosa. A combinação de umidade alta e calor deixa as paineiras com aspecto exuberante, bem verdinhas logo no começo do ano, com as primeiras flores despontando. Ao longo das semanas seguintes, essa floração ganha intensidade progressivamente, até atingir seu auge, entre fevereiro e março, quando é comum ver copas carregadas de flores cor-de-rosa. Nada mais comum do que uma tarde marcada por nuvens negras contrastantes com as cores suaves de uma paineira! 

 

De longe, olhares mais desatentos podem até mesmo confundir com os ipês-rosa (Tabebuia rosea), tamanha a predominância de flores em alguns indivíduos. 



OUTONO

O outono marca a estação em que as flores dão lugar aos frutos nas paineiras. Até fins de abril ou começo de maio, ainda é possível ver pontos róseos na árvore, já misturados com os frutos, que tendem a se formar e predominar nas semanas seguintes, com a copa progressivamente mais despida de folhas. A árvore adquire aspecto mais 'seco', em que os galhos e os frutos ficam cada vez mais evidentes. Tudo isso acompanha a queda nos níveis de umidade relativa do ar, o clareamento dos céus e as primeiras levas de vento frio outonal sobre o estado mineiro, que marcam uma grande mudança no padrão atmosférico geral no estado. 

 

A copa das paineiras, no outono, tem aspecto completamente diferente do observado no verão, sem os tons róseos intensos e com predomínio de frutos grandes que posteriormente, liberarão a paina aos ventos dos meses de inverno. 

Paineiras-rosa sem folhas.

Grande sequência de paineiras-rosa sem folhas na Av. Novara - Bandeirantes - BH. 02/06/2024

Paineira-rosa desfolhada e com frutos.

Paineira-rosa desfolhada e cheia de frutos na praça dos Economistas - Santa Mônica - BH. 01/06/2024



INVERNO


Durante os meses de inverno (junho a agosto), com a folhagem completamente ausente, a copa restrita a galhos secos, de aspecto “dramático”, e inicialmente ainda sob predomínio dos frutos, as painas aparecem como se fossem uma forma proposital de trazer o ar invernal que falta ao nosso inverno. Em muitos locais, principalmente durante o mês de agosto, surgem tapetes brancos ralos pelo chão que, se acumularem, formam verdadeiros mantos brancos, que lembram a neve (até mesmo pelos "flocos" caindo da árvore).  

 

Como se fosse pensado, acompanha o período mais frio, seco e ventoso do ano, em que as temperaturas variam entre 25C pela tarde e 13C ao amanhecer, podendo alcançar os 7ºC nas manhãs mais geladas. As árvores sem folhas, liberando paina, que voam a sabor do vento típico da época do ano, junto do céu anil e das temperaturas mais baixas trazem a máxima expressão do inverno mineiro. 



PRIMAVERA 


Por fim, a primavera marca um súbito aumento de temperatura em Minas Gerais no mês de setembro, até valores entre 33 e 37°C nos dias mais quentes na capital, a depender do ano. É um período muito quente e seco, dominado por fumaça de incêndios florestais e céu opaco, que antecipam o retorno gradual das chuvas a partir do final do mês de setembro. Essas primeiras precipitações são muito aguardadas pelos moradores, a fim de recuperar o que a natureza perdeu no inverno. Nesse processo, as paineiras adquirem aspecto vegetativo, verdinho, se preparando para a florada do verão seguinte, quando chuvas intensas atingem a RMBH e a maior parte do estado. 

 

Localidades que, antes, eram dominadas pela cor-de-rosa ou por galhos secos, ficam totalmente verdes, já muito relevantes para o sombreamento - justamente no período mais quente, ótima notícia! - como durante toda a extensão da Avenida Olegário Maciel, região central de BH.

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