Em ambiente urbano, a vegetação é, quase sempre, plantada intencionalmente, uma vez que o que havia naturalmente foi retirado para dar lugar à cidade propriamente dita e o ambiente controlado pelo homem impede a ocorrência da sucessão ecológica. No entanto, existem plantas que aparecem sozinhas, sem intervenção humana, e acabam compondo a paisagem urbana, mesmo que de forma não planejada.
Estas plantas, chamadas de ruderais, são caracterizadas por surgirem espontaneamente, muitas vezes de forma indesejada como daninha, em áreas abertas e ensolaradas com pouca ou nenhuma manutenção de ambientes urbanos, suburbanos, rurais ou naturais. Nas cidades, conforme extensa observação no município de Belo Horizonte como fonte para este artigo, são muito comuns em lotes vagos ou abandonados, terrenos baldios, frestas de calçadas e muros e demais áreas livres que não estão sendo usadas e/ou que sofrem expressiva degradação por fogo, desmate, deposição de lixo, etc.
As áreas de ocorrência da vegetação ruderal, via de regra, não receberam prévio tratamento paisagístico e, devido às diversas pressões antrópicas do entorno, têm sua vegetação de interesse sistematicamente comprometida e o consequente estabelecimento de plantas altamente resistentes a ambientes desfavoráveis, muitas delas exóticas, seja devido ao crescimento rápido ou facilidade de reprodução.
As plantas ruderais apresentam ampla distribuição geográfica e pertencem a diversas famílias botânicas, como Amaranthaceae, Asteraceae, Cucurbitaceae, Dennstaedtiaceae, Equisetaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Hypoxidaceae, Lamiaceae, Malvaceae, Poaceae, Rubiaceae, Solanaceae, Urticaceae e Verbenaceae. Entre as principais espécies podemos citar:
Algodoeiro herbáceo (Gossypium bardadense);
Beijo-fedorento (Tarenaya hassleriana);
Bertalha (Basella alba);
Bucha (Luffa cylindrica);
Capim colonião (Megathyrsus maximus);
Fedegoso (Senna silvestris);
Girassol do México (Tithonia diversifolia);
Ipezinho-de-jardim (Tecoma stans) – a mesma que é muito utilizada com fins paisagísticos pelas ruas e jardins;
Leucena (Leucaena leucocephala);
Mamona (Ricinus communis);
Pimenta-de-galinha (Solanum americanum);
Pimenta-de-macaco (Piper aduncum);
Planta-umbela (Cyperus alternifolius);
Taboa (Typha domingensis).
Existem inúmeras outras de pequeno tamanho que não foram citadas aqui, para evitar o excesso desnecessário de nomes. Em alguns pontos, a vegetação ruderal pode suprimir quase que completamente a vegetação nativa de interesse e predominar em determinada área, como ocorre na formação das florestas de leucenas. Também são muito comuns como invasoras em hortas e jardins.
Não é regra, mas muitas plantas ruderais também são daninhas que, de acorco com Lorenzi (2014), são “qualquer ser vegetal que cresce onde não é desejado”, como jardins, hortas, lavouras, culturas agrícolas, pomares, pastagens, gramados, ambientes aquáticos, leito de linhas férreas, beira de estradas, entre outros. Nas áreas produtivas, interferem no desenvolvimento e na produtividade das plantas de interesse, por competição e inibição química (alelopatia), o que pode trazer perdas muito significativas às áreas agrícolas (em torno de 20%), conforme o mesmo autor citado.
E essa vegetação ruderal tem alguma importância?
Sob o ponto de vista paisagístico, apesar dos pontos abordados acima, é a vegetação ruderal quem garante a presença do verde em áreas onde não haveria nada dentro das cidades. A simples presença de vegetação permite a ocorrência de alguns serviços ecossistêmicos, como a redução da ilha de calor, o sequestro de carbono, o fornecimento de sombra e vários outros típicos da arborização urbana.
Em ambiente urbano, via de regra, a vegetação está mal distribuída e concentra-se nos parques e unidades de conservação, enquanto o restante da área é altamente artificial.
A população e o Poder Público procuram diminuir os efeitos negativos do excesso de pavimentação por meio de jardins (públicos e privados) e arborização, porém esses elementos apenas mitigam e não resolvem o problema urbano da falta de verde e aí que está uma das importâncias das plantas ruderais.
Elas têm a capacidade de colonizar áreas muito pouco propícias para outras espécies e, em alguns casos, ambientes quase inóspitos. Dessa forma, sem que alguém tenha que plantar, elas aumentam a presença de vegetação em ambiente urbano e contribuem para uma melhor qualidade de espaços que seriam absolutamente sem vida.
Por meio da criatividade humana, até árvores não ornamentais como as leucenas podem trazer um belíssimo efeito estético - e conceitual - nas cidades, como é visto no conjunto de leucenas abaixo presente na avenida Pedro I, em BH:
Sob o ponto de vista social, muitas destas plantas são cultivadas como alimentícias, medicinais, ornamentais ou são remanescentes da flora local. E, fora do contexto urbano, colonizam áreas florestais fragmentadas e impedem a exposição completa do solo às intempéries ambientais. Ainda, e talvez o benefício mais importante, as ruderais nativas têm participação ativa no processo de sucessão ecológica, como pode ser visto na citação abaixo: